quinta-feira, 4 de março de 2010

Avaliação dos aspectos cognitivos no Hospital Geral

Voltando a falar sobre avaliação, quando pensamos a nível de hospital geral, seja internação ou até mesmo pronto socorro, a indicação de avaliação dos aspectos cognitivos se dá nos seguintes casos:
1 - Pacientes com lesão cerebral conhecida:
•    Doenças cérebrovasculares
•    Traumatismo crânio-encefálico
•    Neoplasias
•    Encefalopatias (Wernicke-Korsakoff)
•    Infecções (encefalites virais - Herpes, bacteriana, abscesso cerebral)
•    Doenças degenerativas / Demências (D. Alzheimer)
•    Esclerose Múltipla
•    Coréia de Huntington, Doença de Parkinson (Distúrbios do movimento)
•    Tumores do SNC
•    Epilepsias
•    Distúrbios diagnosticados na infância
2 - Pacientes com fator de risco conhecido para lesão cerebral/alterações cognitivas:
•    Doenças sistêmicas :
    - Endocrinopatias (Hipotireoidismo, Diabetes)
    - Transtornos metabólicos e eletrolíticos (Desidratação profunda)
    - Doenças do rim, fígado e pâncreas;
    - Deficiências nutricionais  (tiamina, B12, B6)
   -  Doenças vasculares
   -  Toxinas (álcool, metais pesados, solventes)
   -  Distúrbios auto-imunes (Lupus, EM)
   -  Drogas (incluindo medicação em uso)
   -  Distúrbios Psiquiátricos ( depressão, esquizofrenia, mania)
   -  Outros (hidrocefalia de pressão normal, apnéia do sono)
3) Pacientes que apresentam mudança no comportamento sem uma etiologia identificável.
- Diagnóstico por exclusão / diferencial entre condições psiquiátricas e condições cerebrais agudas ou Tumores.

Dentro de todas essas indicações citadas, é possível citar os principais sinais e sintomas encontrados de acordo com cada função:
 
Fala e linguagem  -  Disartria (problema na articulaçãofala), Disfluência (problema na fluência das palavras)
Alteração marcante na quantidade da emissão de fala, Parafasias (troca de letras palavras), Disnomia - Problemas em encontrar as palavras apropriadas
Capacidades acadêmicas - Alterações na leitura, escrita com reversões freqüentes de letras ou números, cálculo e habilidades numéricas.
Pensamento - Perseveração na fala (repetição por ex.), Ordenação do raciocínio mental e formação de conceitos simplificada ou confusa
Motor -   Fraqueza e incoordenação, particularmente lateralizada, Comprometimento da coordenação motora fina (por ex., alterações na escrita),Apraxias, Perseveração em componentes de ações;
Memória - Comprometimento da memória recente para material verbal e visoespacial, Desorientação temporal/espacial/pessoal, memória do passado relacionado a pessoas, fatos, etc;
Percepção -   Diplopia ou alterações do campo visual, Desatenção (geralmente lateralizada para a esquerda)
Alterações somatossensoriais (particularmente lateralizadas), Inabilidade de reconhecer estímulos familiares (agnosias);
Capacidades Visoespaciais - Capacidade diminuída em habilidades manuais (por ex., consertos mecânicos e costura), Desorientação visoespacial, Desorientação direita-esquerda, Julgamento espacial deficiente (por ex., angulação de distâncias);
Emoções -  Controle emocional diminuído com acessos de raiva e comportamento anti-social, Redução da empatia ou interesse nas relações interpessoais, Alterações afetivas, Irritabilidade sem fatores precipitantes evidentes, Alterações da personalidade;   
Comportamento - Alteração de apetite e/ou hábitos alimentares, Alteração dos cuidados pessoais (cuidado excessivo ou falta de cuidado), Hiper ou hipoatividade, Inapropriação social;
Muitas pessoas emocionalmente perturbadas se queixam de déficits de memória, que tipicamente refletem mais as próprias preocupações, distratibilidade ou ansiedade do indivíduo que tem uma disfunção cerebral.
Desse modo, as queixas sobre a memória, por si só, não indicam necessariamente uma avaliação neuropsicológica. Algumas dessas alterações são provavelmente mais relevantes na ausência de depressão, embora também possam ser tomadas equivocadamente por depressão.

-COMO encaminhar? O papel do profissional que encaminha...
Importante formular perguntas no encaminhamento que definam para o neuropsicólogo a informação que pretende obter, indicando ainda o seu objetivo, que pode ser: Diagnóstico (propriamente dito), descrever o perfil cognitivo atual ou até mesmo um diagnóstico diferencial.
Recomenda-se aguardar melhora clínica para que o desempenho seja fidedigno às capacidades do paciente.
 De qualquer forma, é válido discussão do caso com o solicitante, uma vez que a avaliação pode ter o objetivo de linha de base.

Objetivos da avaliação dos aspectos cognitivos no Hospital Geral:
•    Auxílio diagnóstico
•    Definição da natureza e severidade das alterações cognitivas
•    Informações sobre perfil cognitivo, personalidade, comportamento social/emocional e ajustamento às limitações.
•    Orientação quanto ao manejo e cuidados (família, equipe multiprofissional e cuidadores).
•    Identificar fraquezas e forças funcionais para planejamento de reabilitação

-PORQUE avaliar e intervir precocemente e no ambiente hospitalar?
•    A avaliação precoce do nível dos déficits pode quantificar o grau de dificuldade que o paciente está sustentando agora e alertar a família e equipe das limitações que podem interferir na reabilitação neste momento;
•    Quando em patologias já conhecidas, fornecer dados sobre funcionamento cognitivo atual ou possíveis seqüelas;
•    Pode prevenir restrições desnecessárias e encaminhamentos inadequados (o paciente pode fazer o que?);
•    Confirmar ou modificar as expectativas da incapacidade, baseadas na neuroimagem;

•    Ser um guia para o manejo inicial do paciente: não previne a ocorrência das alterações, mas com o manejo adequado, pode minimizar as conseqüências para família, psicossociais e profissionais.

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